1 de mar. de 2011

Observações sobre o estudo do Carnaval com crianças e adolescentes - I


Neste ano, sendo o carnaval duas semanas depois do início das aulas, propus o seu estudo às minhas turmas. Com os pequenos estudantes, do 2º ao 6º ano, comecei lançando o assunto e anotando as palavras que vinham deles no quadro para que fizessem um desenho (assim fui olhando como estavam em relação à representação do espaço, da figura humana, no uso das cores e na expressão da composição).

Sendo o Carnaval riquíssimo em sua visualidade e sonoridade, haveria boas possibilidades de trabalho pedagógico nas duas áreas. Pensei em apreciar significativamente imagens e músicas, especialmente marchinhas, pois me parece oportuno por notar um movimento em alguns setores quanto ao resgate do carnaval mais humano, menos comercial e televisivo. Mentalmente fui lembrando de artistas que representaram o carnaval: Portinari, Artur Omar, Tarsila. Haveria outros? Nas marchinhas, Chiquinha Gonzaga, excelente exemplo por ser mulher, negra e compositora, mas quem seriam os compositores das conhecidas marchinhas que cantamos por aí? Ah, tem as fantasias e as máscaras, mas é preciso pensar um jeito menos estereotipado de lidar isso...

Pesquisando na internet, tive uma gratíssima surpresa: encontrei um pintor que também foi compositor de marchinhas, o Heitor dos Prazeres! Além da produção visual e musical dele (há muita coisa disponível na rede) fui mergulhando no universo das tradições religiosas católicas (quaresma, Páscoa, ressurreição, festa da carne) do entrudo, dos personagens Colombina, Pierrot e Arlequim, Momo e Baco, Noel Rosa, da formação das escolas de samba, dos outros tantos grupos que brincam o carnaval por este país monumental: os Caboclinhos, o frevo, o carnaval amazonense.

Com os alunos adolescentes, do 9º ano, pedi que anotassem o que sabiam sobre o carnaval e o que gostariam de saber. Estavam em duplas ou trios e, durante a atividade, o que mais ouvi foi “bah, odeio carnaval” (ninguém precisa gostar, mas é importante aprender sobre, OK?) ou que nada sabiam sobre o tema. Ahn? Como assim: não sabiam...? Vai lá Carmen, sai dessa: “OK, não sabem nada... É igual a um velório? Reúne poucas ou muitas pessoas? Se faz no quintal de casa ou em outro lugar? Existe em Caxias? Como é aqui? E as cores?“. Claro que sabiam várias coisas, algumas até equivocadas, apenas não consideravam importante o seu saber. Quanto às curiosidades, houve muitos votos para o tipo de tinta com que se pintar os corpos, o motivo para tanta nudez das mulheres e qual a origem (e o inventor) do carnaval. Com menor ocorrência, mas com muito mais energia, alguns questionaram por que há tanto carnaval na programação televisiva, por que a cultura gaúcha fica de lado, já que seria nossa cultura autêntica, e como é feito o julgamento dos desfiles. Concluí rapidamente e superficialmente que a visão deles é formada pela mídia televisiva (Rede Globo e sua Globeleza), que desconhecem a tradição carnavalesca local, que o conflito cultura X trabalho é presente, reproduzindo o pensamento dos adultos de seu entorno). Uns cinco alunos, do total de quase 100, tinham certeza de que há carnaval de rua na cidade. Em uma das três turmas, tive uma ideia relâmpago: que perguntassem a pessoas mais velhas o que pensavam sobre carnaval.

Santa (ou demônia) internet: gerei 40 páginas de texto na minha primeira pesquisa, sendo muitas respostas ou esclarecimentos ao que veio dos alunos mais uma tonelada de informações que eu achei importantes: uma lista enorme de marchinhas, cifras das mais populares, vários sites, muitos vídeos (documentários, trechos de bailes e desfiles atuais e antigos, entrevistas). É muito mais que as minhas condições de usar. Um tando de achados alimentaram minha página no Facebook, mas a melhor descoberta foi um álbum inteiro de marchinhas do Heitor dos Prazeres. Iupiiii!

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